Como é caracterizada a doença? (Tipo, causas, sintomas e comorbidade)
A fibromialgia é considerada uma doença crônica associada à dor. Ela está associada à dissemina ção da dor no músculo esquelético, que é comumente acompanhada por sintomas como fadiga, problemas cognitivos, humor, perturbações e problemas com o sono. Além disso, alguns pacientes com fibromialgia apresentam sintomas psicológicos, sociais e comportamentais que promovem e afetam o funcionamento geral e a qualidade de vida. Os sintomas fisiopatológicos da fibromialgia incluem um sistema nervoso central sensibilizado ou hiperativo que é associado a um aumento do ganho de dor sensorial. Sendo assim, a fibromialgia pode ocorrer sozinha, mas muitas vezes é associada a outras comorbidades, em condições como a síndrome do intestino irritável, dores de cabeça, artrite reumatoide (altamente associada com uma variedade de doenças autoimunes). Quando as comorbidades estão presentes, a dor centralizada pode resultar de vários problemas, tornando difícil identificar a fonte.
Qual a prevalência (e impacto) dessa doença no Brasil e no mundo?
A fibromialgia é significativamente mais comum em mulheres e tem uma taxa de prevalência de 4% em toda a Europa e América do Norte com uma prevalência mundial de 5-7%. Estudos brasilei ros estimam a prevalência de SFM em torno de 2,5% da população. De acordo com um estudo, a fibromialgia provoca um impacto bastante importante na qualidade de vida dos pacientes. Sendo assim, em relação ao impacto global, está relacionado com aspectos pessoais, profissionais, fami liares e sociais. Já em relação ao impacto na qualidade de vida, está associado fortemente com a intensidade da dor, fadiga e decréscimo da capacidade funcional.
Quais medicações são usadas nessa doença?
Antidepressivos: Amitriptilina, Nortriptilina, Duloxetina, Fluoxetina, Moclobemida. Relaxantes musculares: ciclobenzaprina é o relaxante muscular indicado pelo médico e as doses recomendadas são de 1 a 4 mg à noite e a duração do tratamento deve ser de 2 a 3 semanas.
Ansiolíticos e indutores do sono:
Analgésicos: paracetamol (Tylenol ou genérico) e os opióides como tramadol (Tramal ou Novo tram)
Neuromoduladores: Gabapentina (Neurontin ou Gabaneurin) e Pregabalina
Quais os efeitos colaterais e limitações do tratamento atual?
Na ausência de uma cura definitiva para a fibromialgia, o tratamento se concentra principalmente no manejo dos sintomas e melhoria da qualidade de vida dos pacientes.
Os AINEs inibem a COX 1 presente na mucosa gastrointestinal, resultando numa série de efeitos adversos com diversas gravidades, desde a dor abdominal, diarreia e dispepsia até úlceras, he morragias gastrointestinais e perfuração. Ansiolíticos: sonolência e dificuldade de concentração. Antidepressivos: cefaléia, ansiedade, náuseas, diminuição do apetite e do desejo sexual, inquie tude, insônia, nervosismo e tremores. Opióides: dependência, constipação intestinal, depressão respiratória, sedação, náuseas e vômitos.
Quais evidências do tratamento com cannabis nessa doença (sintomas e comorbidades)? (estudos em células/animais e humanos)
Pesquisadores de Israel associaram o uso da cannabis medicinal com redução nas dores corporais e em maiores intervalos em que estas se apresentam. Essa pesquisa foi feita através da análise realizada com dados provenientes de dois centros médicos de Israel especializados no tratamento da fibromialgia. Dessa maneira, o levantamento foi realizado em 2017 e os resultados foram publicados em agosto de 2018 na edição online do Journal of Clinical Rheumatology. A pesquisa contou com 26 pacientes, com idade média de aproximadamente 38 anos, diagnosticados com fibromial gia há pelo menos 2 a 4 anos na base. Destes, 73% eram mulheres (n=19). Após consentirem com o estudo retrospectivo, os indivíduos responderam a questionários sobre a doença antes e depois do tratamento com maconha medicinal, que durou por volta de 10 a 11 meses. A dose que cada paciente tomou foi em média de 8.3 g por mês. Sendo assim, ao finalizar a pesquisa, todos os pa cientes relataram uma melhora nos sintomas da fibromialgia em todos os quesitos que constavam no questionário, principalmente no que se referia à dor. Pelo menos 50% dos participantes (n=13) reportaram ter parado de tomar a medicação tradicional após o consumo da cannabis. Em relação aos efeitos adversos, 30% dos pacientes (n=8) sentiram leves efeitos colaterais como dores de ca beça, náuseas, boca seca, sonolência e fome excessiva.
Além disso, um estudo de pesquisa transversal com início em 2005 e conclusão em 2007, realiza do na cidade de Barcelona, buscou investigar se o uso de canabidiol possuía efeito benéficos no tratamento da fibromialgia. Os participantes elegíveis deveriam ter mais de 18 anos de idade e ter sido diagnosticado com FM de acordo com os Critérios do American College of Rheumatology, com sintomatologia grave a moderada e deveriam ser resistentes a medicamentos farmacológicos de tratamento convencional. Os critérios de exclusão foram doença grave e história de abuso ou dependência de cannabis ou outras substâncias psicoativas. As seguintes variáveis foram registra das: duração do uso de cannabis, se já havia feito uso anteriormente, uso de derivado de cannabis (haxixe ou maconha), via de administração, quantidade e frequência de uso, o reconhecimento do médico sobre o uso de cannabis e mudanças de tratamento farmacológico. Sintomas dos quais a cannabis foi utilizada e o alívio percebido foi registrado usando 5 pontos da Escala de Likert (forte alívio, leve alívio, sem mudança, leve piora, grande piora). Os pacientes foram ainda solicitados a registrar os benefícios percebidos da cannabis em uma série de sintomas (dor, rigidez, relaxamento, sonolência, bem-estar) usando uma escala de 0 a 100. A ocorrência e frequência de efeitos colaterais foram indicadas com base em uma lista de sintomas. A fim de comparar a qualidade de vida entre usuários e não usuários de cannabis, foram utilizados três questionários: O Short Form Health Survey de 36 itens (SF-36) e um questionário administrado, no qual são avaliadas as dimensões da qualidade de vida relacionada à saúde: funcionamento físico, dor corporal, saúde geral, vitalidade, desenvolvimento social, saúde emocional e mental. Cada escala foi pontuada usando métodos baseados em normas, com pontuações mais altas indicando melhor saúde. A pontuação resumida do componente de saúde mental do questionário SF-36 foi ligeiramente, mais significa
tivamente maior no grupo cannabis (média (M) = 29,66 desvio padrão (DP) = 8,2) do que no grupo de não usuários (M = 24,96SD = 8,9), p, 0,05. Na pontuação do resumo do componente físico, as diferenças não eram significativas entre os grupos (grupo cannabis: M = 26,296SD = 6,7; grupo de não usuários: M = 27.346SD = 5,8; p = 0,53, teste t). Sendo assim, nenhuma diferença foi encontrada no impacto da fibromialgia, mas sim, na melhora da qualidade de vida dos pacientes, pela administração dos sintomas provocados pela doença.
Uma pesquisa em Israel analisou pacientes com fibromialgia (FM) e que relatavam lombalgia.O presente estudo teve como objetivo avaliar a possível melhora da dor e da função relacionada à Terapia Médica com Cannabis (MCT). Sendo assim, 31 pacientes participaram de um estudo obser vacional cruzado, tratados com 3 meses de terapia analgésica padronizada(SAT): 5 mg de cloridra to de oxicodona equivalente a 4,5 mg de oxicodona e2,5 mg de cloridrato de naloxona duas vezes ao dia e 30 mg de duloxetina uma vez ao dia. Após 3 meses dessas terapias, os pacientes poderiam optar por MCT e foram tratado por um mínimo de 6 meses. As medidas de resultados incluíram a escala de dor VAS para avaliar medir a intensidade da dor atual (escala de 0 a 10 com 10 defi nido como dor mais forte que se possa imaginar), Índice de Incapacidade de Oswestry (ODI) para avaliar a limitação funcional devido ao distúrbio da coluna (escala de 0-100,0 sem deficiência, 100 deficiência total) e um questionário de impacto (FIQR) (escala 0-100). Embora o SAT levasse a uma pequena melhora em comparação com o estado inicial a adição de MCT permitiu uma melhoria significativamente maior em todos os pacientes em 3 meses após o início do MCT e a melhora foi mantida em 6 meses.Dessa maneira, esse estudo cruzado observacional demonstrou uma vanta gem de MCT em pacientes com FM com lombalgia, em comparação com SAT.
Resumo de como a cannabis pode ajudar.
Pessoas tratadas com CBD afirmam que essa substância tem um grande alívio da dor, bem como observaram melhorias na qualidade do sono e em condições como enxaquecas e síndrome do intestino irritável. É importante ressaltar que o CBD não é uma cura para a fibromialgia, mas uma opção de tratamento para as comorbidades associadas a mesma, proporcionando uma melhora na qualidade de vida das pessoas que sofrem com ela, pois há evidências de que essa substância e outras derivadas da cannabis ajudam a adormecer, aliviar a dor, reduz a ansiedade, combate as enxaquecas, diminui as náuseas, ajuda na concentração e em geral pode contribuir para um me lhor humor. Sendo assim, o tratamento com o óleo da cannabis, ajuda pacientes portadores dessa enfermidade em controlar diversos dos sintomas provocado pela patologia.
Referências
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